O trabalhador rural José Aparecido Silva, de 46 anos,
recebeu seguro-desemprego pela primeira vez no início de 2014, após conseguir
ficar pouco mais de seis meses com a carteira assinada, colhendo café em
fazendas da região de Ribeirão Preto. "Ajudou muito", disse.A ajuda
pode não se repetir. Silva é um dos 1,6 milhão de trabalhadores que teriam o
benefício recusado caso já estivessem em vigor as mudanças aprovadas no início
deste mês pela base governista na Câmara. As novas regras do seguro-desemprego
devem prejudicar principalmente trabalhadores de baixa renda e que ingressaram
há pouco tempo no mercado formal de trabalho - um segmento social significativo
na base de eleitores da presidente Dilma Rousseff e do PT.>Com as novas
regras, que ainda precisam do aval do Senado, serão alteradas as exigências de
tempo mínimo de trabalho para se ter direito ao seguro-desemprego.
Até o início deste ano, qualquer pessoa demitida sem justa
causa após seis meses com carteira assinada poderia receber o benefício. Pela
proposta em tramitação no Congresso, esse prazo subirá para 12 ou 9 meses para
quem solicitar o seguro pela primeira ou pela segunda vez em sua vida profissional,
respectivamente. A partir do terceiro pedido, a exigência do prazo mínimo de
seis meses de trabalho fica mantida.
Restrições
Na prática, isso reduzirá o contingente de beneficiados. Dos
8,5 milhões de seguros pagos em 2014, quase 20% não se enquadrariam nas novas
exigências e teriam sido recusados se elas estivessem valendo na época, segundo
estimativa feita pela área técnica do Ministério do Trabalho.Nesses 20% haveria
alta concentração de pessoas com baixa remuneração. Cálculos do Estadão Dados
com base em relatórios do ministério mostram que, quanto menor a renda, maior a
chance de o trabalhador ser demitido antes de um ano de trabalho.
Dentre todos os demitidos em 2014 que recebiam até dois
salários mínimos, 23% tinham entre seis e doze meses de trabalho. Essa parcela
cai para 12% no grupo com renda superior a dez salários mínimos.>Silva, que
voltou a obter emprego no setor cafeeiro, teme não conseguir sacar o seguro
desemprego quando for demitido. Atualmente, ele tem dois meses de carteira assinada.
O emprego só existirá, porém, enquanto houver café a ser colhido. Para ter
direito a uma segunda solicitação do benefício, o número mínimo de meses
trabalhados será de nove, segundo as regras aprovadas pela Câmara. Silva acha
difícil atender à nova exigência. "Não depende da gente", afirmou.
"Quando acaba a colheita, também não costuma ter mais serviço."As
mudanças no seguro desemprego, que fazem parte das medidas de ajuste fiscal do
governo, devem ser votadas pelo Senado nesta semana.
Nenhum comentário:
Postar um comentário
sua postagem será publicado após aprovação