Está circulando na internet e que seria uma psicografia de
um médium ditada pela cantora Cássia Eller, morta no dia 29 de dezembro de
2001, aos 39 anos, após sofrer quatro paradas cardíacas.Wilson Pinto,
presidente do Lar de Frei Luiz, conhecido centro espírita de Jacarepaguá, no
Rio de Janeiro, teria confirmado que a suposta carta foi escrita no centro, e
que já recebeu psicografias de Chorão e Cazuza. “Não é a primeira desse tipo
que recebemos. Já recebemos do Chorão, do Cazuza… é verdadeira. O que não é de
nosso costume é a divulgação dessas psicografias, é um assunto interno da casa,
não deveria ter vazado”, disse Wilson A publicação fez uma boa cobertura sobre
a possível carta psicografada de Cássia Eller, entrevistando a ex-companheira
de Cássia, Maria Eugênia Martins, o diretor de marketing da Federação Espírita
Brasileira, João Rabelo, a mãe do cantor Cazuza, e o presidente da Rádio Rio de
Janeiro Espírita, Gerson Monteiro.
Confira a carta na íntegra:
Se eu disser para vocês que o inferno existe, acreditem,
pois eu estava mergulhada nele, de corpo e alma, num espaço sombrio e frio, bem
interno do ser, dos pés à cabeça, sem tempo, sem luz, nem descanso e
afogava-me, a cada segundo, num oceano de matéria viscosa que roubava até minha
ilusória alegria… Naquele lugar não havia luz, somente nuvens cinza e chuvas
com raios e trovões, gritos estridentes e desesperados, gemidos surdos, pedidos
de socorro, lágrimas, desalento, tristeza e revolta…Preciso descrever mais as
cenas dantescas de animais que nos mastigavam e, em seguida, nos devoravam sem
consumir nossos corpos; se é que posso dizer que aquilo, que sobrou de mim, era
um corpo humano. Queria fugir para bem longe dali, mas tudo em vão, quanto mais
me debatia no fluido grudento, mais me afundava e, quando alcançava, de novo, a
superfície apavorante, mãos e garras afiadas faziam-me submergir naquele líquido
pastoso e mal cheiroso.Dragões lançavam chamas de suas bocas sujas e nos
queimavam, machucando e estilhaçando a pouca consciência que me restava da
lembrança de minha estada no corpo físico, neste planeta azul. Guardiões das
trevas olhavam atentos seus presos e vigiavam todos os movimentos realizados
naquele imenso espaço de sofrimentos, dores, lamentos, depressões, angústias e
arrependimentos tardios… O ar era ácido e provocava convulsões diversas.Perguntava-me
porque ali estava se nada fizera por merecer tão infeliz destino, depois de ser
expulsa do corpo de carne através do uso maciço de drogas. A dúvida
assaltava-me os raros momentos de raciocínio menos desequilibrado e as crises
de abstinência trancavam todas as portas que dariam acesso à saída daquele
campo de penitência de espíritos rebeldes e viciados com eu.Os filmes de horror
que assisti, quando encarnada, estariam ainda muito distantes dos padecimentos,
pânicos, pavores e temores que ficariam para sempre registrados na minha memória
mental, os piores dias que vivi até hoje, como joguete e marionete de forças
que me escravizavam o ser, debilitado, fraco, desprovido de energias, suja,
carente e chorosa.Não me lembrava do que acontecera comigo… Quando o medo é
maior que as necessidades básicas, a mente fica encarcerada num labirinto
hipnótico e ‘torporizante’ de emoções truncadas e desconectadas da realidade…
Assemelha-se a um pesadelo sem fim, sempre com final trágico e apavorante.
Quando conseguia conciliar um pequeno tempo de sono; era imediatamente desperta
por seres que me insultavam e xingavam, acusavam-me de suicida maldita e
jogavam-me lama misturada com pedras… Insetos e anfíbios ajudavam a traçar o
perfil horrendo dos anos que passei no umbral. Preciso escrever estas palavras
para nunca mais me esquecer: ‘Com o fenômeno da morte, nós não
vamos para o umbral, nós já estamos no umbral quando
tentamos forjar as leis maiores da criação com nossas más intenções e
tendências viciantes’.Tudo fica registrado num diário mental que traça nosso
destino futuro, no bem ou no mal. O umbral não fora criado por Deus; ele é de
autoria dos espíritos que necessitam de um autêntico e genuíno estágio
educativo em zonas inferiores, onde poderão se depurar de suas construções
aleijadas no campo dos sentimentos e dos pensamentos disformes, mal
estruturados e mal conduzidos por nossa irresponsabilidade, de mãos dadas com a
imensa ignorância que nos faz seres infelizes e distantes da tão sonhada paz de
consciência.Após alguns anos umbralinos, despertei numa tarde serena, num campo
verdejante e calmo. Não acreditava no que via, pois tudo, agora, parecia um
sonho… Percebi, ao longe, o canto de uma ave que insistia em acordar-me daquele
pesadelo no qual já me acostumava a viver; a morrer todos os dias… Seu canto
era uma música que apaziguava meu coração e aguçava meus pensamentos na
lembrança de como fui parar ali naquele campo gramado e repleto de árvores.
Consegui sentar-me na relva e ao olhar todo aquele espaço natural, deparei-me
com milhares de outros seres como eu, nas mesmas condições de debilidade moral,
usufruindo, agora, de um bem que não merecia, mas vivia! Todos nós dormíamos e
fomos despertos com música e preces em favor de todos os presentes…A maioria
era de jovens e adultos, poucos idosos e centenas de enfermeiros que olhavam
atentos para nossos movimentos no gramado. Com seus olhos serenos, projetavam
em nós a mansidão e a paz tão esperadas por nossos corações enfermos, débeis e
carentes de atenção, de afeto e carinho.Alguém me tocava, de leve, os ombros e
chamava-me pelo nome, como se me conhecesse há muito tempo. Eu identifiquei
aquela voz e ‘temia’ olhar para trás e confirmar minha impressão auditiva, era Cazuza
todo de branco, como lindo enfermeiro, de cabelos cortados bem curtos e
estendia suas mãos para que eu levantasse, caminhasse e conversasse um pouco em
sua companhia. Não consegui me levantar, porque uma enxurrada de lágrimas
vertia dos meus olhos, como nascente de rio descendo a montanha das dores que
trazia no peito. Meu ídolo ali estava resgatando e cuidando de sua fã,
debilitada e muito carente. Ele cantou pequena canção e tive a capacidade de
avaliar o que Deus havia reservado para aqueles que feriam suas leis e buscavam
consolo entre erros escabrosos e desconcertantes.A misericórdia divina sempre
conspira a nosso favor, nós desdenhamos do amor divino com nossas desatenções e
desequilíbrios das emoções comprometedoras, que arranham e esmagam as mais
puras sementes depositadas no ser imortal. Aprendi palavras boas! Somente agora
enxergo que sou espírito e que a vida continua e precisa seguir o curso natural
das existências, como na roda-gigante: hora estamos aqui no alto; hora estamos
aí embaixo encarnados. Daqui de cima, parece ser mais fácil compreender porque
temos de respeitar as leis e descer num corpo físico para, igualmente, quando
aí estivermos, conquistarmos, pelo trabalho no bem, a lucidez que explica
porque há a reencarnação, filha da justiça divina.Após um tempo no campo
reconfortante, fui reconduzida para um hospital onde me recupero até hoje dos
traumas e cicatrizes que criei no corpo do perispírito. As lesões que provoquei
foram muito graves, passei por várias cirurgias espirituais e soube que minha
próxima encarnação será dolorosa e expiarei asma, deficiência mental e
tuberculose. Mesmo assim, estou reunindo forças para estudar, pois sempre
guardamos, no inconsciente, todos os aprendizados conquistados. Reencarnarei
numa comunidade carente no interior do Brasil e passarei por muitos reveses,
para despertar em mim o valor da vida do espírito na pobreza e na doença
crônica. Peço orações e a caridade dos corações que já sabem o que fazem e para
onde desejam chegar. Invistam suas forças e energias espirituais em trabalhos
de auxílio ao próximo e serão, naturalmente, felizes. Obrigada por me aceitarem
como necessitada que sou!
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