Quase um quinto das aulas exigidas pelo currículo escolar da
rede estadual não é lecionada por falta de professores. De acordo com dados da
Secretaria Estadual de Educação e Cultura (SEEC), os 12 mil professores ativos
na rede não conseguem suprir a necessidade de 69 mil aulas mensais nas 657
escolas estaduais. Por coincidência ou não, o déficit na carga horária é mais
crítico nas disciplinas de matemática e ciências, nas quais o desempenho dos
estudantes potiguares, refletido pelos índices nacionais de educação, é pífio.
De acordo com a SEEC, 23% das aulas de matemática necessárias para a rede não
são ministradas.
Os cálculos e a interpretação dos números são um “calo” para
boa parte dos estudantes da rede pública. De acordo com levantamento da ONG
Todos pela Educação, divulgado em julho, apenas 4% dos estudantes que saem do
Ensino Médio no estado possuem conhecimento básico em matemática. O percentual
foi calculado com base no desempenho de 2.795 alunos na Prova Brasil e no
índice SAEB, ambos realizados pelo Instituto Nacional de Pesquisas em Educação
Anísio Teixeira (Inep) entre 2013 e 2014.
Em ciências, o Rio Grande do Norte amargou o terceiro pior
desempenho no ranking nacional dos estados no Programa Internacional de
Avaliação de Alunos (PISA), realizado pela Organização de Cooperação e
Desenvolvimento Econômico (ODCE). No último levantamento sobre esta disciplina,
em 2009, a média dos alunos do RN foi de 369,4 pontos. A média nacional era 405
pontos.Para os alunos da rede estadual, sejam do ensino fundamental ou médio,
os “horários vagos” são uma realidade comum e, geralmente, irreversível. Na
Escola Estadual 15 de Outubro, na Zona Norte de Natal, os estudantes do 8º ano
do Ensino Fundamental estão sem aula de matemática desde o início do ano. Nem
fizeram prova. Como a carga horária dos docentes é limitada a 30 horas semanais,
a única professora de matemática da escola, Maria das Graças Bezerra, precisou
escolher qual série deixaria sem aulas neste ano. “Só consigo dar aula em cinco
das sete turmas. Saí do 8º ano e fui para o 9º ano para não deixar eles sem
aula para o IFRN”, conta a professora, que estimula os alunos a tentarem o
exame de seleção do instituto federal: em 2014, dois foram aprovados.
Gestores e especialistas em educação são unânimes: para não
mais se escandalizar com os índices, o RN precisa reformar o currículo,
valorizar o professor, garantir infraestrutura para escolas. Uma fórmula antiga
mas que, se bem aplicada, pode reverter o quadro negro que se desenha para a
educação.
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