O governo repetiu na semana passada uma manobra que está na
mira do Tribunal de Contas da União (TCU) no julgamento das contas da
presidente Dilma Rousseff em 2014. Ao anunciar a redução da meta fiscal deste
ano, na quarta-feira, a equipe econômica aplicou, baseada nessa nova previsão,
um corte de R$ 8,6 bilhões nos gastos públicos. Esse bloqueio no orçamento foi
embasado na nova meta, que, no entanto, ainda precisa ser aprovada pelo
Congresso.No processo de análise das contas de 2014, o TCU aponta como uma das
distorções, ao lado das “pedaladas fiscais”
, operação semelhante, feita sem
aval do Legislativo. Em novembro do ano passado, em vez de cortar R$ 28,5
bilhões em gastos, o governo liberou R$ 10 bilhões com base na provável
aprovação, pelo Congresso, do projeto que alterava a meta fiscal. Os ministros
do TCU sustentam, com base em acórdão aprovado no mês passado, que a operação
foi irregular. A justificativa é que o governo “utilizou” a gestão orçamentária
de 2014 “para influir na apreciação legislativa do projeto de lei 36/2014″, em
referência à proposta que alterava a meta fiscal do ano passado. Essa é uma das
distorções que podem levar a corte a uma inédita rejeição das contas federais. A
oposição conta com essa reprovação para reforçar a tese de impeachment de
Dilma.A semelhança entre as operações preocupa o Planalto. Numa reunião sobre o
quadro fiscal do governo na semana passada, a presidente e ministros da área
econômica discutiram o assunto. Avaliaram, no entanto, que a defesa para a
manobra do ano passado, recém-apresentada ao TCU, serviria para justificar
também o que foi feito agora.O TCU decidiu conceder 30 dias para a presidente
esclarecer os problemas nas contas do ano passado. A defesa formal, com mais de
mil páginas, foi entregue na quarta-feira ao tribunal. No documento, o governo
argumenta que um corte de gastos públicos de R$ 28,5 bilhões em novembro de
2014 “levaria inevitavelmente ao agravamento da situação econômica já desfavorável”
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