O presidente da Câmara dos Deputados, Eduardo Cunha
(PMDB-RJ), anunciou nesta sexta-feira (17) seu rompimento político com o
governo Dilma Rousseff. Segundo Cunha, a partir de agora ele passará a integrar
as fileiras de oposição à gestão petista. "Eu, formalmente, estou rompido
com o governo. Politicamente estou rompido", enfatizou Cunha em coletiva
de imprensa no salão verde da Câmara.O peemedebista acusa o Palácio Planalto de
ter se articulado com o procurador-geral da República, Rodrigo Janot, para
incriminá-lo na Operação Lava Jato. Nesta quinta (16), o ex-consultor da Toyo
Setal Júlio Camargo relatou à Justiça Federal do Paraná que Cunha lhe pediu
propina de US$ 5 milhões.
Um dos delatores do esquema de corrupção que atuava na
Petrobras, Camargo afirmou em seu depoimento, em Curitiba, que foi pressionado
por Cunha a pagar US$ 10 milhões em propinas para que um contrato de
navios-sonda da estatal fosse viabilizado. Do total do suborno, contou o
ex-consultor, Cunha disse que era "merecedor" de US$ 5 milhões.Camargo,
que é ex-consultor da empresa Toyo Setal, afirmou à Justiça que, sem ter
recurso para pagar a propina exigida, Cunha o ameaçou com um requerimento na
Câmara, solicitando que os contratos dos navios-sonda fossem enviados ao
Ministério de Minas e Energias para avaliação e eventual remessa para o Tribunal
de Contas da União (TCU).Apesar das duras críticas desferidas contra o governo
durante a entrevista, o presidente da Câmara disse que o rompimento não
significa que haverá o "fim da governabilidade". "O fato de eu
estar rompido com o governo não vai afetar a relação institucional",
complementou o peemedebista.Ele assegurou que continuará a pautar os projetos,
inclusive, de interesse do Planalto, mas fez um alerta: "Saiba que o
presidente da Câmara agora é oposição ao governo”.Após o teor do depoimento de
Júlio Camargo vir à tona, o presidente da Câmara rebateu as acusações e disse
que o procurador-geral da República, a mando do governo, obrigou o delator a
mentir em seu depoimento para constranger o Legislativo. Na visão dele, o
Planalto está por trás de uma tentativa de "constranger" o
parlamento, em articulação com o procurador-geral da República.Nesta sexta,
Eduardo Cunha acusou o governo de ter orquestrado uma ação “faraônica” para
constranger o Congresso Nacional, com os mandados de busca e apreensão da
Polícia Federalexecutados na última terça (14) nas casas dos senadores Fernando
Collor (PTB-AL), Fernando Bezerra Coelho (PSB-PE) e Ciro Nogueira (PP-PI).Indagados
sobre se o fato de passar para a “oposição” poderia incluenciá-lo a autorizar a
abertura de um processo de impeachment da presidente Dilma Rousseff, Cunha
ressaltou que o seu novo posicionamento político não terá influência. “Eu não
vou fazer ato ilegal pelo meu posicionamento político”, declarou.
'Aloprados'
Sem citar nomes, o presidente da Câmara afirmou que existe
um “bando de aloprados” no Palácio do Planalto que age contra ele. A relação de
Cunha com o Executivo ficou extremamente tensa desde que ele assumiu o comando
da casa legislativa, em fevereiro.Em meio à eleição interna da Câmara, ele
criticou o fato de o governo ter apoiado a candidatura de seu adversário, o
deputado Arlindo Chinaglia (PT-SP). Diante da derrota do deputado petista,
Cunha se negou a manter interlocução política com o então ministro das Relações
Institucionais, Pepe Vargas, que era responsável pela articulação política do
Planalto com o Legislativo. Enfraquecido no cargo, Pepe foi transferido
posteriormente para a Secretaria de Direitos Humanos.“Tem um bando de aloprados
no planalto que vive desse tipo de circunstância, de criar constrangimento.”Segundo
Cunha, o governo tem “ódio” dele e age para constranger o Legislativo. “O
governo nunca me quis e não me quer como presidente da Câmara. O governo não me
engole, tem um ódio contra mim. Tem um bando de aloprados no planalto que vive
desse tipo de circunstância, de criar constrangimento.”
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